Será
que não deveríamos mudar?
Como pastor e,
principalmente, como membro da IELB, quero fazer eco às preocupações expostas
pelo senhor Ricardo Goerl (ML, março de 2012) quanto ao reduzido crescimento
numérico da IELB nos últimos anos. É certo que não buscamos números – buscamos
pessoas. Todavia, os números revelam se estamos alcançando ou não tais pessoas
que buscamos.
A matéria de capa do Mensageiro
Luterano de jan/fev tem por título: “Evangelização: o desafio permanente para
as congregações”. A pergunta é: será que estamos conseguindo vencer tais
desafios? A julgar pelos últimos números, parece que não.
É louvável a preocupação da
IELB em buscar métodos e estratégias como os Festivais Missionários propostos
pelo DEM (ML, abril de 2012). Mas isso será suficiente? Afinal, outros métodos
e outras estratégias têm sido usados... e os resultados? Será que apenas novas
estratégias mudarão nossos números?
Gostaria
de propor algumas questões para a nossa reflexão e auto avaliação como IELB:
Será
que não estamos “engessados” dentro de uma estrutura que não está se mostrando
muito eficaz?
Dou
como exemplo os departamentos que temos em nossas congregações. Reconheço seu
valor, mas percebo que estão “envelhecendo”. A participação dos membros parece
ser cada vez menor. Em termos missionários, sua eficácia é questionável. Com
exceção de algumas Escolas Bíblicas e Uniões Juvenis, quantos novos membros da
IELB são frutos de missão dos departamentos? Mas nos vemos forçados a mantê-los
– para participar de congressos, por exemplo – e assim mostrar que “estão
funcionando”. Afinal, se algum departamento “não funciona”, é porque o trabalho
da congregação não está sendo bem feito!
Será
que não estamos sendo muito “ativistas” e pouco “ativos”?
Enchemos
nossas agendas de reuniões, encontros, congressos, etc. E, ai de nós,
(pastores, principalmente) se não estivermos presentes em tudo! Achamos graça
da anedota que diz que os luteranos serão o último grupo cristão a entrar no
Céu porque ainda estão em reunião, mas continuamos fazendo com que tal
comparação continue sendo muito verdadeira.
Será
que não estamos invertendo nossas prioridades?
Há
um clamor entre os membros pelo pouco número de visitas feitas pelos seus
pastores. E a defesa pastoral é: “falta tempo!”. E como encontrar tempo dentro
de agendas lotadas? A agenda de Jesus também estava sempre cheia: cheia de visitas
a fazer, cheia de pessoas a encontrar, cheias de necessidades a atender, cheia
de conselhos a dar, cheias de atenção... às pessoas! A prioridade de Jesus não
eram as reuniões, os ensaios, etc.; sua prioridade sempre foi a visitação e o
contato com o povo.
Será
que não estamos apenas mantendo “as coisas que nos agradam”?
Sempre
tivemos dificuldade de sair de nossa cultura germano-luterana. Temos
dificuldade até mesmo de sair “para fora” do Rio Grande do Sul (nossos números
revelam que praticamente metade de nossos membros estão no RS). Se não fosse
por uma guerra, é possível que ainda estaríamos fazendo missão em alemão no
solo brasileiro! Não desprezo nossas tradições, mas será que não estamos mantendo
as coisas da maneira a que estamos acostumados? Não importa se é missionário ou
não, o que importa é que “eu gosto das coisas do jeito que estão”. Somos
luteranos “de berço”; talvez nos falte coragem para “sair do berço”.
Será
que não estamos “amarrando” o espírito Santo?
Talvez
pensemos que ele só pode agir se a Palavra for pregada por alguém “vestido a
caráter”, ou se for cantada através de letras “escravizadas” dentro de melodias
antigas, ou se for exposta através de fórmulas pré-estabelecidas ou rígidos
rituais. Correndo os olhos pelos evangelhos, não vejo Jesus tão preocupado com
vestes, fórmulas ou tradições.
Será
que não estamos “jogando nossas pérolas aos porcos” (expressão de Jesus em Mateus
7.6)?
Perdemos
tempo correndo atrás de pessoas que já tiveram muito tempo (às vezes, desde “o
berço”) para ouvir e aceitar a pérola do Evangelho, enquanto negamos a
oportunidade (por falta desse mesmo tempo que perdemos) a muitos que nunca
tiveram contato com o tesouro de Deus. Às vezes, damos a impressão de que nossa
maior missão é “correr atrás das ovelhas perdidas do rebanho luterano”.
Será
que mais pessoas “de fora” estarão dentro da IELB nos próximos anos ou estaremos
fechados em reuniões elaborando métodos e estratégias para atingi-los?
Não
espero que todos concordem com tais questionamentos. Só espero que sejamos de
fato sinceros ao analisarmos nossos números e que façamos tudo por amor; não
por amor ao nosso gosto, às nossas tradições, à nossa estrutura, ao nosso
“berço”, mas por amor à Igreja, por amor à missão de Deus, por amor à missão de
buscar pessoas, por amor às pessoas, por amor àqueles que Jesus continua
amando.
Escrito por Valdir Klasener,
pastor em Cerrito – RS
Artigo do Mensageiro
Luterano, Abril 2013, p.24-25.
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